ALEGORIA DA PRIMAVERA
ALEGORIA DA PRIMAVERA
ALEGORIA DA PRIMAVERA
ALEGORIA DA PRIMAVERA
ALEGORIA DA PRIMAVERA

ALEGORIA DA PRIMAVERA

Alegoría de la Primavera [ES]
Allegory of Spring [EN]
Allégorie du Printemps [FR]
Allegorie des Frühlings [DE]
春の寓意(はるのぐうい, Haru no gūi)[JP]
Artes visuais
Real Fábrica de Louça (Rato)
- Produtor (atrib.)

Descrição:
Representação alegórica da primavera, escultura de vulto pleno em faiança moldada e vidrada a branco. Escultura civil. Produção portuguesa, atribuível à Real Fábrica de Louça (Rato), do século XVIII (2.ª metade).

Figura alegórica da primavera, feminina, em vulto pleno e de características clássicas, assente sobre base quadrangular, executada em faiança moldada e vidrada a branco. Produção portuguesa, sem marcas, atribuível à Real Fábrica de Louça do Rato, datável da 2.ª metade do século XVIII. Representa uma mulher jovem, disposta de pé, com o peso do corpo apoiado na perna direita e a esquerda ligeiramente fletida, configurando uma postura de leve contrapposto. O corpo, totalmente nu, de modelação delicada e proporções equilibradas, revela um tratamento anatómico cuidado e naturalista. A cabeça, voltada para a frente, apresenta um rosto sereno, enquadrado por cabeleira comprida e ondulada que desce sobre o ombro e as costas, cingida por uma grinalda de flores que reforça o caráter primaveril da composição. As flores que sustém nas mãos e que lhe ascendem pelo corpo até ao ombro direito constituem o principal atributo iconográfico, simbolizando a fecundidade, o renascimento e o esplendor juvenil, numa clara alusão à renovação da natureza e à fertilidade da estação.

Integra um conjunto de esculturas alegóricas alusivas às quatro estações do ano, inspiradas na tradição antiga e ditas “ao antigo”, expressão do gosto alegórico e moralizante que marcou o século XVIII, produzido na Real Fábrica de Louça do Rato. O tema, herdado da Antiguidade e amplamente retomado na Europa setecentista, conheceu grande difusão na escultura e nas artes decorativas, a partir de modelos franceses e italianos que circularam entre as principais manufaturas cerâmicas do período. Reinterpretado com uma sensibilidade decorativa própria, o tema assume na produção do Rato um caráter singular, que alia o rigor formal do modelo europeu ao gosto simbólico e moralizante característico da cerâmica portuguesa do século XVIII. Para além do primavera, figuram igualmente as alegorias do verão (ver: MCM7197), do outono (ver: MCM7195) e do inverno (ver: MCM7194). O Verão representa um jovem em transição para a maturidade, de anatomia ainda arredondada que denuncia a proximidade da infância, sustentando no braço direito um feixe de espigas, símbolo de paz, abundância e prosperidade, evocando a fertilidade dos campos e a plenitude vital própria da estação estival. O Outono, por sua vez, figura um homem maduro e evoca o tempo da colheita e da plenitude; a mão esquerda, atualmente desaparecida, teria possivelmente segurado um cacho de uvas, numa alusão à época das vindimas e à generosidade da terra. O Inverno, por sua vez, figura um homem idoso, de corpo parcialmente desnudado e envolto em panejamento, inclinado sobre um braseiro num gesto de se aquecer, imagem que exprime a fragilidade da velhice e o recolhimento próprio do fim do ciclo vital. A correspondência entre as estações e as idades do homem traduz uma leitura simbólica da existência – associando o ciclo natural à passagem do tempo e à caducidade da vida. Este paralelismo entre o ritmo da natureza e o percurso humano reflete o ideal de harmonia e equilíbrio cultivado pela estética neoclássica e pelo pensamento ilustrado, em que arte e moral se unem numa visão ordenada e universal do mundo.

Na coleção Documentos para a História da Arte em Portugal, publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian, no volume XV Documentos dos séculos XVI a XIX do Arquivo Histórico Ultramarino, encontra-se transcrita, na página 85, a referência constante de um “Inventário de toda a louça, materiaes, e moveis que se achou existir em ser em a Real Fábrica de Louça [...]”, datado de 31 de julho de 1784, onde se mencionam “4 Ditas [formas] de estatuas das estaçoens do anno, a 1$600 [total] 6$400 reis”, registo que poderá estar relacionado com este conjunto escultórico.

Proveniente da Quinta do Botelho, situada no lugar do Livramento, na ilha de São Miguel (Açores), concebida como propriedade agrícola de produção e, em simultâneo, como espaço de lazer e recreio. Erguida na segunda metade do século XVIII, a quinta pertenceu originalmente ao reverendo Dâmaso José de Carvalho (1745-1807), ouvidor eclesiástico, passando, após a sua morte, ao irmão mais novo, Francisco Caetano de Carvalho (1749-1812), secretário da Câmara de Ponta Delgada. Falecido este sem herdeiros forçados, designou como seu universal herdeiro o 1.º barão da Fonte Bela, Jacinto Inácio Rodrigues da Silveira (1785-1869), reservando, contudo, o usufruto de parte dos bens à sua mulher, D. Ana Rosa de Oliveira. Assim, a Quinta do Botelho apenas viria a integrar plenamente o património do barão em setembro de 1826, após o falecimento da usufrutuária. Como se observa numa fotografia de António José Raposo (1838-1916), datável da última década do século XIX, as esculturas das quatro estações encontravam-se dispostas no jardim, num parterre com lago central, diante da fachada poente da casa. Esta disposição, articulando escultura, arquitetura e natureza, exemplifica a harmonia compositiva típica de algumas quintas senhoriais micaelenses do período. Já sob a posse do barão da Fonte Bela e dos seus descendentes, a propriedade conheceu importantes transformações, que abrangeram a casa e o jardim, conferindo-lhe um caráter mais apalaçado e um enquadramento paisagístico de feição romântica, sem perder a sua vocação produtiva e de recreio.
SÍLVIA MASSA e PEDRO PASCOAL DE MELO (Novembro, 2025)

Bibliografia consultada:
  • ALBERGARIA, Maria Isabel Soares de. Jardins e Parques da Ilha de São Miguel: 1785-1885. Lisboa: Quetzal Editores, 2000.
  • ALBERGARIA, Maria Isabel Soares de. A Casa Nobre na Ilha de S. Miguel: Do Período Filipino ao Final Antigo Regime [Tese de Doutoramento. Lisboa: Instituto Superior Técnico/Universidade Técnica de Lisboa, 2012 [Disponível em: A casa nobre na Ilha de S. Miguel: do Período Filipino ao final do Antigo Regime - Scholar. Consulta em: 05 nov. 2025].
  • PAIS, Alexandre Nobre (et al.). Real Fábrica de Louça, ao Rato [catálogo de exposição]. Lisboa; Museu Nacional da Azulejo; Porto: Museu Nacional Soares dos Reis: 2003.
  • RODRIGUES, Ana Duarte. "Elites, estratégias e especificidades da encomenda de escultura de jardim em Portugal (1670-1800)", in Análise Social, vol. 207, n.º 48 (2013), pp. 368-394 [Disponível em: Vol. 48 N.º 207 (2013) | Análise Social. Consulta em: 05 nov. 2025].

Dimensões:
Totais : A. 78 x L. 31,5 x P. 30 cm
Nº de Inventário:
MCM7196a
Data de produção:
Século XVIII (2.ª metade)
Material e técnicas
Cerâmica (Faiança) - Moldada e vidrada a branco
Incorporação:
Presentemente encontra-se em depósito no Palácio de Sant'Ana, residência oficial do Presidente do Governo Regional dos Açores, em Ponta Delgada.
Entidade relacionada
Museu Carlos Machado

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