Perspetiva frontal.
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GAVETA-ESCRITÓRIO

Writing box
Mobiliário

Título Alternativo:
Escrivaninha
Descrição:
Gaveta-escritório, ou escrivaninha, em madeiras diversas, marfim e cobre. Móvel para escrita. Produção indo-portuguesa, de fabrico atribuível a Goa, do século XVII.

Gaveta-escritório portátil, de formato paralelepipédico, fabricada em madeira de teca faixeada a ébano. A peça é adornada com embutidos de ébano e marfim, fixados por cavilhas decorativas desses mesmos materiais, e apresenta ferragens de cobre. Na parte superior, estão dispostos sete escaninhos, organizados para simular nove, sendo três com tampas quadradas e quatro retangulares, destinados ao material de apoio à escrita, como tinteiro, areeiro, penas, sinete, cera de lacre, entre outros. Na parte frontal, há uma gaveta com fechadura, acompanhada da chave original, para o armazenamento de folhas de papel e documentos. A decoração, presente em todos os quatro lados, exibe intrincados círculos secantes (diaprés), nos quais se inserem estrelas de oito pontas e losangos, explorando o efeito claro-escuro dos materiais e formando um padrão geométrico repetitivo. O móvel é equipado com puxadores e reforços de cantos em cobre dourado, com desenho vazado e recortado, e repousa sobre quatro pés de bola, também em cobre dourado.

Raro pela sua tipologia e dimensões, este móvel não se limitava a ser uma peça funcional, mas configurava-se também como um autêntico símbolo de estatuto e sofisticação. Era designado na época como 'escrivaninha', termo referido no Vocabulário Português e Latino, do padre Rafael Bluteau, publicado entre 1712 e 1728, que a descreve como sendo uma "caixa, em que se traz o necessário para escrever, como penas, tinta, canivete, etc.". De caráter portátil, era utilizado sobre uma mesa ou estrado, na casa de fidalgos, clérigos, comerciantes ou funcionários administrativos, e o seu desenho elegante, aliado aos materiais de excecional qualidade, conferia-lhe a honra distinta de objeto de luxo.

As suas características permitem atribuir o seu fabrico ao século XVII e à cidade de Goa, então capital do Estado Português da Índia e um centro renomado pela produção de móveis e outros artigos requintados. Esta peça destinava-se tanto ao mercado local quanto à crescente demanda de exportação para Portugal e outros países europeus. A sua conceção e decoração refletem a fusão de influências culturais diversas, evidenciando a intersecção entre as tradições europeias, que inspiraram o modelo estrutural do móvel, e a arte local, representada pelos referidos círculos secantes (diaprés). O gosto pelos padrões geométricos foi introduzido na arte indiana durante a expansão islâmica, que se espalhou pelo subcontinente no século VII, logo após a morte do profeta Maomé. Sob a influência portuguesa, essa técnica não só foi preservada, mas também aperfeiçoada, simbolizando o encontro de culturas que moldaram a arte indo-portuguesa.
PEDRO PASCOAL DE MELO (fevereiro, 2025)

Bibliografia consultada:
  • BLUTEAU, Rafael. - Vocabulário Português e Latino, 10 tomos. Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1721 [Disponível em: Vocabulario portuguez e latino . Biblioteca Nacional de Portugal. Consulta em: 18 fev. 2025].
  • CARVALHO, Pedro Moura. - Luxury for Export: artistic exchange between India and Portugal around 1600 [catálogo de exposição]. Boston: Isabella Stewart Gardner Museum, 2008.
  • CRESPO, Hugo Miguel. - Choices. Lisboa: AR/PAB, 2016 [Disponível em: Choices. PAB. Consulta em: 18 fev. 2025).
  • CRESPO, Hugo Miguel. - A Índia em Portugal: um tempo de confluências artísticas/India in Portugal: a time of artistic confluence [catálogo de exposição]. [S.l.]: Bluebook, 2021.
  • DIAS, Pedro. - Mobiliário indo-português. Moreira de Cónegos: Imaginalis, 2013.
  • FERRÃO, Bernardo. - Mobiliário Português: Índia e Japão, vol. III. [Porto]: Lello & Irmãos, 1990.

Dimensões:
Totais : A. 11,5 x C. 27 x L. 22 cm
Nº de Inventário:
PS0051
Data de produção:
Século XVII
Material e técnicas
Madeira (teca e ébano) - Ensamblada, faixeada, recortada e embutida
Marfim - Recortado, polido e embutido
Cobre -  Fundido, chapeado, recortado e dourado
Incorporação:
Adquirida em 1980, durante a vigência do I Governo Regional dos Açores (1984-1988), por intermédio do antiquário e colecionador Eduardo Rangel Pamplona Silvano (1924-1999). Integra desde então as coleções da Presidência do Governo dos Açores, estando em exposição no Palácio de Sant'Ana, em Ponta Delgada.

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