Fazem parte do espólio do Museu Carlos Machado vinte e quatro telas atribuídas ao Morgado de Setúbal (1752-1809). Diogo de Macedo apresenta este artista com o nome de José António Benedito Soares de Barros e Faria Barbosa, nascido em Mafra, em 1752 e falecido em Setúbal em 1809, referindo, na Revista Ocidente de Outubro de 1940: "O Morgado de Setúbal amigo de Vieira na mocidade (Pintor Vieira Lusitano), foi um isolado no seu tempo; foi também um revolucionário muito pessoal, com altos e baixos na execução das obras, sem nada dever a colegas, nem sequer o estimulo, que só raros amigos e o povo simples lhe ofereciam com encomendas e louvores, ao ponto de, pela sua espontaneidade e paixão pela arte, atingir um estilo inconfundível, sincero e modesto, cujos segredos a Natureza lhe ofertou pelo quanto ele a observava e a adorava"1.
Em 1964 foi realizada uma exposição de pinturas do Morgado de Setúbal e de Estanhos no Museu de Arte de Setúbal, onde a obra que agora se apresenta tem o n.º 2 do catálogo, com o título "Mulher cortando Hortaliça". O texto deste catálogo, da autoria da Dr.ª Maria da Glória Guerreiro, traça a biografia de Morgado de Setúbal, onde indica que "é um pintor com uma certa originalidade, sobretudo nos quadros de figura em que reproduziu tipos modestos da época em que viveu. Foram as pessoas humildes que principalmente lhe serviram de modelo...Diz Raczynski que é precisamente na expressão das figuras que melhores elogios merecem os seus quadros"2.
Como registo de naturezas mortas e personagens populares as pinturas do Morgado de Setúbal apresentam um ambiente distinto do fausto do século XVIII, com realismo exacerbado, que encontra congéneres em alguma pintura espanhola da mesma época. Nesta cena interior, com mulher reclinada sobre pequeno alguidar de barro, cortando hortaliça, com faca de ponta alongada, o autor pretendeu retratar uma atividade ligada ao quotidiano de uma mulher do Povo. O traje popular do século XVIII, o pequeno banco em madeira, com características do séc. XVII, sobre o qual está outro alguidar de barro com água e couve, define um ambiente rústico, ligado ao trabalho doméstico. Nesta pintura sobressai o encarnado do traje, na touca da mulher, e o efeito da luz na face da figura feminina realça mais a personagem do que a atividade.
[MTO]
1 Diogo de Macedo - O Morgado de Setúbal, in: Ocidente, Revista Mensal, Outubro, vol XI, nº 30, 1940, p.130.
2 Glória Guerreiro - António Benedito Soares de Faria e Barros, Morgado de Setúbal, in: Catálogo da uma exposição de pinturas de Setúbal e de Estanhos, Museu de Arte de Setúbal, Lisboa, 1964, p. 11
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