A arte Nanban (Nanban bijutsu, 南蛮美術) constitui um dos capítulos mais fascinantes do encontro cultural entre o Japão e o Ocidente. Iniciou-se com a chegada dos portugueses, em meados do século XVI (c. 1543), logo seguidos por espanhóis e, mais tarde, por holandeses, já por volta de 1600. O termo Nanban – ou Nanban-jin (南蛮人, “bárbaros do sul”) – designava os europeus que aportavam ao Japão pelas rotas marítimas meridionais. Os seus hábitos e costumes, profundamente distintos dos japoneses, pareceram rudes aos olhos da época, dando origem à denominação.
A produção Nanban caracteriza-se pela aplicação de técnicas tradicionais japonesas à criação de objetos adaptados ao gosto europeu. A laca (urushi, 漆), decorada com pó de ouro aplicado a pincel (hiramaki-e, 平蒔絵) e incrustações de madrepérola (raden, 螺鈿), foi amplamente empregada na execução de cofres, arquetas, caixas de escrita, contadores, biombos e objetos de devoção. Embora de manufactura local, inspiravam-se em modelos ocidentais e refletiam a influência dos mercadores e missionários católicos que introduziram novas crenças, técnicas e formas artísticas no arquipélago. Destinadas sobretudo ao mercado ibérico, estas peças foram produzidas entre cerca de 1570 e 1639 – ano em que o Japão adotou a política de isolamento (sakoku, 鎖国) –, abrangendo o período Azuchi-Momoyama (1573-1600) e o início do período Edo (1603-1868). Quioto destacou-se como principal centro de produção, reunindo artífices locais sob orientação europeia.
A arte Nanban foi amplamente apreciada pelas elites eclesiásticas e nobres europeias, e muitas peças serviram como presentes diplomáticos entre monarcas. Em Portugal, encontra-se representada em instituições como o Museu Nacional de Arte Antiga, o Museu de São Roque e o Museu do Oriente, em Lisboa, e o Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, além de diversas igrejas e coleções particulares.
PEDRO PASCOAL DE MELO (setembro, 2024)
