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COFRE

Arqueta [ES]
Casket [EN]
Coffre [FR]
Koffer [DE]
櫃 [JP]
Mobiliário
Japão
- Produtor

Título Alternativo:
Arqueta
Descrição:
Cofre portátil em madeira, com decoração a laca, ouro e madrepérola. Móvel de conter. Produção japonesa, para o mercado de exportação europeu (Nanban), de fabrico atribuível a oficina de Quioto, do final do século XVI (período Momoyama, era Edo).

Cofre portátil de pequenas dimensões, com forma de baú paralelepipédico e tampa abaulada articulada, produzido no Japão para exportação europeia no contexto do comércio Nanban (南蛮貿易, Nanban Bōeki), com produção atribuída a oficina de Quioto, datando do final do século XVI, durante o período Momoyama e o início da era Edo. Inteiramente realizado em madeira – presumivelmente criptoméria (, sugi; Cryptomeria japonica) – e revestida a laca negra (, urushi), a peça apresenta uma decoração exterior com técnicas tradicionais de ornamentação japonesa, incluindo dourado aplicado a pincel (平蒔絵, hiramaki-e), incrustações de madrepérola (螺鈿, raden) e ferragens recortadas e cinzeladas em cobre dourado (飾金具kazarikanagu). É executado em duas partes, com os lados elevados acompanhando a curvatura da tampa abaulada e articulada. A superfície divide-se em painéis quadrangulares, enquadrados por faixas geométricas a ouro e madrepérola, evocando as cintas metálicas dos cofres europeus. Os painéis exibem uma ornamentação vegetalista densa, onde se reconhecem motivos auspiciosos como campânulas (Platycodon grandiflorum), cameleiras (Camellia japonica), cerejeiras (Prunus serrulata), bordos (Acer palmatum), feijoeiros (Pueraria lobata) ou mandarineiros (Citrus tachibana). As ferragens – pega superior e suas esperas na tampa, dobradiças no tardoz, espelho e lingueta da fechadura na frente – são executadas em cobre e finamente recortadas e cinzeladas, apresentando motivos de flores e animais estilizados, sendo estes últimos representados no espelho e sob a forma de cabeças de tigre. O interior e a base exterior encontram-se integralmente revestidos a laca negra. A peça possui fechadura metálica embutida.

Os objetos em laca Nanban, ou Nanban bijutsu (南蛮美術, “arte dos bárbaros do Sul” — designação alusiva aos seus encomendantes europeus), constituem um dos capítulos mais marcantes do encontro cultural entre o Japão e os seus primeiros visitantes ocidentais. Entre estes destacam-se os portugueses, que chegaram ao arquipélago por volta de 1543, seguidos por espanhóis e, já em 1600, por holandeses. Produzidas sobretudo para o mercado ibérico entre cerca de 1570 e 1639 — data da implementação da política de isolamento (sakoku, 鎖国), que viria a restringir fortemente os contatos com o exterior —, estas peças foram executadas com técnicas tradicionais japonesas, como a lacagem (urushi, ), a aplicação de pó de ouro (maki-e, 蒔絵) e as incrustações de madrepérola (raden, 螺鈿), evidenciando um acabamento minucioso e luxuoso. Apesar do domínio técnico local, muitos dos modelos adotados seguiam referências europeias, em resposta ao gosto e função pretendidos pelos encomendantes, refletindo a intensa influência cultural exercida pelos mercadores e missionários cristãos que acompanharam estas trocas. Estes agentes não trouxeram apenas novas rotas comerciais e o cristianismo, mas também tecnologias e formas culturais até então desconhecidas no Japão. Entre os objetos mais frequentemente produzidos figuram cofres, arquetas, arcas, caixas-escritórios, contadores, biombos e peças religiosas. A sua manufatura teve lugar sobretudo durante o período Momoyama (1573–1615) e o início do período Edo (1615–1868), sendo a cidade de Quioto um dos principais centros de produção, com recurso a artesãos locais sob orientação europeia.

Cofres como o aqui descrito, de pequenas dimensões e conhecidos pela sua forma como kamaboko-bako (かまぼこ箱), devido à semelhança com a tradicional salsicha de peixe kamaboko (蒲鉾), estão entre os primeiros exemplares de laca Nanban exportados para a Europa. Eram usados para guardar objetos preciosos, conferindo à técnica japonesa uma aparência de riqueza que refletia o prestígio dos bens armazenados no interior. Estes cofres eram altamente apreciados pelas elites nobres e pelo clero europeus, o que levou a que, por vezes, fossem oferecidos como presentes diplomáticos por monarcas e governantes da época. Em contexto religioso, eram também utilizados para preservar objetos de grande valor espiritual, como relíquias de santos ou a própria Eucaristia.
PEDRO PASCOAL DE MELO (setembro, 2024)

Nota: Tradicionalmente abriga no seu interior o  MENINO JESUS DEITADO [PGRA-PS0016] e o FIRMAL [de capa de asperges] [PGR-PS1100], servindo este último de almofada ao primeiro. No interior, colocado por João Bosco Mota Amaral (n.1943, Presidente do Governo Regional dos Açores, cargo que exerceu desde 1976 até 1995), está um ramo bento do Domingo de Ramos; um ramo de oliveira, trazido de Jerusalém e oferecido por frei Luís de Sousa (franciscano, natural da Ponta Garça, ilha de São Miguel, Açores, que entre outros múnus foi assistente do Mosteiro das Clarissas das Calhetas e pároco da mesma freguesia), de uma das oliveiras milenares do Jardim das Oliveiras; e uma nota manuscrita pelo primeiro, datada de 19 de outubro de 1995, descrevendo os itens referidos.

Bibliografia consultada:
  • AAVV. A Cidade Global: Lisboa no Renascimento/The Global City: Lisbon in the Renaissance. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda/Museu Nacional de Arte Antiga, 2017.
  • CRESPO, Hugo Miguel (et al.). A Arte de Coleccionar: Lisboa, a Europa e o Mundo na Época Moderna (1500-1800)/The Art of Collecting Lisbon, Europe and the Early Modern World (1500-1800). Lisboa: AR/PAB, 2019.
  • PINTO, Maria Helena Mendes, Lacas Namban em Portugal. Presença portuguesa no Japão, Lisboa: Edições Inapa, 1990.
  • WELSH, Jorge (ed.). - After the Barbarians/Depois dos Bárbaros. Lisboa: Jorge Welsh, 2003.
  • WELSH, Jorge (ed.). - Depois do Bárbaros II: Arte Namban para os mercados Japonês, Português e Holandês. Lisboa: Jorge Welsh, 2008.


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Dimensões:
Totais : A. 15,5 x C. 13,5 x L. 22,5 cm
Nº de Inventário:
PGRA-PS0024
Data de produção:
Final do século XVI (período Momoyama, era Edo)
Material e técnicas
Madeira, laca, ouro e madrepérola - Ensamblada, lacada, dourada e embutida
Cobre - Recortado, gravado e dourado
Incorporação:
Esta peça foi adquirida em 1985, durante a vigência do III Governo Regional dos Açores (1984-1988), ao antiquário e colecionador Eduardo Rangel Pamplona Silvano (1924-1999), integra desde então as coleções da Presidência do Governo dos Açores, estando atualmente em exposição no Palácio de Sant'Ana, em Ponta Delgada.

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