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MENINO JESUS DEITADO

Reclining Child Jesus
Arte Sacra
Oficina hispano-filipina (Manila)
- Produtor

Título Alternativo:
Imagem de Menino Jesus
Descrição:
Menino Jesus em marfim. Imagem devocional. Produção hispano-filipina, de fabrico atribuído a Manila, do século XVII (2.ª metade).

Escultura de vulto pleno, em marfim esculpido e polido (num único fragmento de presa de elefante), parcialmente policromada e com incrustações de vidro. O menino está representado desnudado, acordado e em posição deitada de costas. De grande realismo, apresenta uma cabeça bem definida, com expressão serena - com um olhar inocente e esboçando um sorriso - e cabelos ondulantes; sendo o tronco é alongado e os membros - braços e pernas - curtos e roliços, marcados por refegos, e com mãos e pés papudos. Tem o braço direito fletido e levando o dedo indicador à boca, o direito estendido ao longo do corpo e as pernas cruzadas. Genitália presente. Olhos de vidro embutidos. Vestígios de policromia no cabelo (castanho) e boca (vermelho). Furo na cabeça para resplendor ou coroa. Restauro antigo nos dedos do pé esquerdo.

Figura devocional do culto católico, influenciada por modelos flamengos, indianos e chineses, para presépio ou camilha. Produzida para o mercado ibérico, onde era muito procurada nos séculos XVII-XVIII, por encomenda de comerciantes espanhóis nas Filipinas (que se tornara uma colónia da Espanha em 1565) a escultores locais, muitos deles de origem chinesa - ou de ascendência mista filipina e chinesa, denominados "mestizos de sanglei" - e membros de uma comunidade ali estabelecida de longo tempo, nomeadamente em Manila. O culto ao Menino Jesus, impulsionado por São Francisco de Assis (m.1226), teve um grande desenvolvimento com a Contra Reforma e em resposta à ascensão do Protestantismo. No Oriente, a ação religiosa e espiritual católica, durante o setecentos e oitocentos, mormente através da Ordem dos Frades Menores de São Francisco e da Companhia de Jesus, incentivou a produção local de imaginária destinada à propagação da fé cristã e ao fortalecimento do poder cultural e religioso da Igreja Católica em territórios sob domínio ibérico. A circulação dessas esculturas era feita através das embarcações da chamada Carreira da Índia e das ligações entre Macau e Cebu, nas naus da China ou nos galeões de Manila, que ligavam a Ásia, a Europa e a América. Neste caso específico, Jesus apresentasse figurado como um Deus menino, que assumiu a realidade humana para elevá-la até a divindade, oferecendo assim uma ideia perfeita da salvação cristã sob a forma de uma criança inocente. Tudo isto é conseguido através de uma interessante representação que mescla a iconografia cristã ocidental com elementos estéticos orientais, descortinados em detalhes como olhos amendoados, pálpebras pesadas, meio sorriso, lóbulos de orelhas grandes, barriga redonda e coxas carnudas, numa clara referência às representações sagradas asiáticas do Buda. Essa mescla de culturas e estilos reflete a forte interação entre as tradições artísticas locais e as encomendas religiosas europeias, mostrando como o cristianismo, ao se expandir para regiões distantes, adaptava suas representações para melhor ressoar com as culturas autóctones, criando uma ponte cultural entre o Oriente e o Ocidente.
PEDRO PASCOAL DE MELO (Setembro, 2024)

Bibliografia consultada: Bailey, Gauvin Alexandre; Massing, Jean Michel; Silva, Paulo Vassallo e. - "Translation and metamorphosis in the Catholic ivories of China, Japan and the Philippines, 1561–1800", in Marfins no Império Português/Ivories in the Portuguese Empire. Lisboa: Scribe, 2013, pp. 231-266; Chong, Alan (ed.). - Christianity in Asia: Sacred Art and Visual Splendour [Catálogo de exposição]. Singapura: Asian Civilisations Museum, 2016; Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (org.). - A Expansão Portuguesa e a Arte do Marfim [Catálogo de exposição]. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1991; Kawamura, Yayoi. - "Manila, ciudad española y centro de fusión. Un estudio a través del inventario del gobernador de Filipinas Alonso Fajardo de Tenza (1624)", in e-Spania: Revue électronique d'études hispaniques médiévales et modernes, vol. 30 (jun. 2018) (Consultável em: Manila, ciudad española y centro de fusión. Un estudio a través del inventario del gobernador de Filipinas Alonso Fajardo de Tenza. Open Edition Journals. Acesso em: 20 set. 2024); Marcos, Margarida M. Estella. - "The Indo-Portuguese and Hispano-Philippine Schools of Ivory Sculpture", in Stratton-Pruitt, Suzanne L. (ed.), Journeys to New Worlds: Spanish and Portuguese colonial art in the Roberta and Richard Huber Collection [Catálogo de exposição]. Philadelphia: Philadelphia Museum of Art, 2013, p.103; Porras. Stephanie. - "Locating Hispano-Philippine ivories", in Colonial Latin American Review, vol. 29, n.º 2 (2020), pp. 256-291 (Consultável em: Locating Hispano-Philippine ivories. Academia.edu. Acesso em: 19 set. 2024); Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e. - Imaginária Luso-Oriental. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1983.

NotaTradicionalmente é guardado dentro do COFRE [PS0024], deitado sobre o FIRMAL [de capa de asperges] [PS1100].

Dimensões:
C. 13,5 cm
Nº de Inventário:
PS0016
Data de produção:
Século XVII (2.ª metade)
Material e técnicas
Marfim - Esculpido e polido
Tinta - Policromada
Vidro - Incrustado
Incorporação:
Adquirido em 1990, durante a vigência do IV Governo Regional dos Açores (1988-1992), ao antiquário e colecionador Eduardo Rangel Pamplona Silvano (1924-1999), integra desde então as coleções da Presidência do Governo dos Açores, estando em exposição no Palácio de Sant'Ana, em Ponta Delgada.

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