Reino do Pegu


Nome completo:
Reino do Pegu

O Reino de Hanthawaddy – ou Pegu – foi um dos principais estados da antiga Birmânia, dominando a Baixa Birmânia entre 1287 e 1539, com breve restauração em 1550-1552. Surgiu após o colapso do Império de Pagan, com capital em Martaban (Mottama). Nos primeiros anos esteve sob influência de Sukhothai e do Império Yuan, tornando-se independente em 1330. Era um reino descentralizado, com três zonas principais – Martaban, Bago e o delta do Irawádi – governadas por líderes locais que reconheciam o rei, mas com ampla autonomia. Essa estrutura originou períodos de instabilidade, como a rebelião de Martaban entre 1363 e 1388.

Situado entre o golfo de Bengala e o mar da China Meridional, Hanthawaddy prosperou com o comércio marítimo. Os rios que ligavam Pegu aos portos de Martaban e Sirião permitiam o escoamento de tecidos, pedras preciosas, marfim, lacas, ouro e prata. O reino tornou-se um centro cosmopolita, frequentado por mercadores da Índia, da China e de várias regiões do Sudeste Asiático. O auge do reino deu-se sob Dhammazedi (1471-1492), antigo monge que reforçou o budismo Theravada e promoveu a reforma monástica através das inscrições de Kalyani. Sob o seu patrocínio, ergueram-se templos e foi reconstruído o grande pagode Shwemawdaw, símbolo de Bago. Este período de estabilidade e riqueza marcou o florescimento das artes mon, com produção de lacas, esculturas e ourivesaria.

No século XVI, a prosperidade de Hanthawaddy atraiu os portugueses, que estabeleceram contactos comerciais e diplomáticos e se envolveram em conflitos locais. Destacaram-se Salvador Ribeiro de Sousa, referido nas crónicas como Massinga, e Filipe de Brito e Nicote (c. 1566-1613), que, após servir na Índia, se instalou em Sirião (Syriam) e aí governou como senhor independente. A sua ambição provocou a reação dos reis birmaneses de Ava, levando à destruição da fortaleza de Sirião em 1613. Capturado, Brito foi levado a Pegu e executado. Apesar do fim da presença militar portuguesa, subsistiram comunidades mestiças conhecidas como Bayingyi, descendentes de soldados e comerciantes que mantiveram a fé cristã e técnicas de fundição e armaria.

Conquistado em 1539 por Tabinshwehti e definitivamente anexado em 1552 por Bayinnaung, Hanthawaddy manteve-se na memória como um dos principais centros políticos e culturais do Sudeste Asiático. Herdeiro da tradição mon e ligado às rotas do Índico e do mar da China, o reino refletiu um ambiente de encontro e mistura de influências budistas, indianas, chinesas e europeias, símbolo do cosmopolitismo asiático entre os séculos XIII e XVII.
PEDRO PASCOAL DE MELO (outubro, 2024)

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