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MESA DE CHÁ

Mesa de té [ES]
Tea table [EN]
Table à thé [FR]
Teetisch [DE]
ティーテーブル [JP]
Mobiliário
China
- Produtor

Descrição:
Mesa de chá, em madeira e bambu, com entalhes decorativos. Móvel de pousar. Produção chinesa, datável de cerca de 1872-1885 (dinastia Qing).

Mesa com tampo circular, em madeira e bambu, decorada com entalhes, produzida na China para exportação entre 1872 e 1885. O tampo em madeira, amovível, apresenta uma borda elevada e uma decoração entalhada, com peônias arbóreas florescentes (chinês: 牡丹, mǔdān), dispostas sobre uma formação rochosa natural, conhecida como pedras dos eruditos (供石, gōngshí). A mesa assenta sobre um suporte em bambu, composto por quatro pernas e travessas cruzadas.

Este tipo de mesa era frequentemente utilizado em salas de chá e espaços de receção na China imperial, especialmente durante a dinastia Qing (1644–1912). Desempenhava um papel essencial na cerimónia do chá, servindo de suporte e tabuleiro para bules, chávenas e outros utensílios, com o rebordo a evitar que eventuais derrames de líquidos escorressem para o chão. O uso de motivos decorativos nesta mesa não era apenas uma escolha estética, mas também um reflexo dos valores culturais da época, que atribuíam significados profundos à natureza e à sua simbologia. As peónias, associadas à nobreza e à realeza, eram símbolos de riqueza, prosperidade e boa sorte. Durante séculos, apenas os imperadores chineses tinham o privilégio de cultivar e exibir estas flores nos seus palácios, tornando-as um emblema de prestígio e poder. Para além disso, representavam a efemeridade da beleza e a renovação, características que as tornaram ainda mais reverenciadas nas artes e na decoração. Já as pedras dos eruditos, rochas naturalmente desgastadas pela erosão com formas singulares, eram frequentemente expostas em interiores ou jardins, sendo valorizadas pelas suas superfícies texturadas, formas dramáticas, assimetria inesperada e brilho. Simbolizavam um microcosmo do universo e serviam de inspiração para os estudiosos. Com o tempo, estas mesas deixaram de ter uma função exclusivamente prática e, ao serem exportadas para os mercados europeus e americanos, passaram a ser apreciadas sobretudo como elementos de decoração. Tornaram-se símbolos da fusão entre a arte tradicional chinesa e os gostos ocidentais do século XIX, refletindo um significativo momento de intercâmbio cultural entre esses dois mundos.

No verso do tampo, encontra-se uma etiqueta com a inscrição "Maison de L'Escalier de Cristal / Pannier-Lahoche & Cie.", o que nos permite concluir que o móvel foi adquirido em Paris, na prestigiada casa L'Escalier de Cristal, uma das mais célebres lojas de artes decorativas da época. Fundada em 1808 por Marie Désarnaud (1775-1842), nas imediações do Palais Royal, a loja rapidamente se tornou uma referência para os apreciadores de luxo. Em 1863, a firma passou a ser dirigida por Pierre-Isidore Lahoche (1805-1882) e pelo seu genro Emile-Augustin Pannier (1828-1892), sob a sociedade Pannier-Lahoche et Cie., trazendo uma nova dinâmica à loja, reforçando o seu prestígio e ampliando o portfólio de produtos. Em 1872, transferiram o negócio para a confluência das ruas Scribe e Auber, no emergente bairro do barão Haussmann, próximo da nova Ópera de Paris, ainda em construção, e do elegante Grand Hôtel, frequentado por uma clientela rica e ávida por novidades. Esse conjunto de informações permite datar a comercialização da mesa entre 1872 e 1885, período em que a firma alterou novamente o seu nome para Pannier Frères, refletindo mudanças na estrutura da empresa. A casa cessou a sua atividade em 1923.

Esta mesa fez parte das coleções reais do Palácio Nacional da Ajuda, tendo integrado a decoração do atelier de pintura do rei D. Luís I de Portugal (1838-1889; rei de 1861 a 1889), conforme é possível confirmar numa fotografia datada de cerca de 1888 e numa aguarela de Enrique Casanova, de aproximadamente 1889, que integra um álbum oferecido aquele monarca por ocasião do seu 51.º aniversário, a 31 de outubro daquele ano, além de documentação escrita da época. Em 1944, por despacho ministerial, a mesa foi cedida ao Governo Civil do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo, então sediado no Palácio dos Capitães-Generais, na cidade de Angra do Heroísmo. Este processo fez parte de uma redistribuição mais ampla do património entre várias entidades e espaços sob a administração da República, com o objetivo de valorizar a sua representatividade institucional.
PEDRO PASCOAL DE MELO (fevereiro, 2025)

Nota: Agradecemos ao Palácio Nacional da Ajuda e, em particular, à conservadora da coleção de mobiliário, Maria José Gaivão de Tavares, pela valiosa colaboração, nomeadamente na identificação da peça no atelier de pintura do rei D. Luís I de Portugal, através de uma fotografia da coleção real e do álbum de aguarelas de Enrique Casanova (das quais gentilmente cederam cópias), bem como na datação da sua chegada aos Açores.

Fontes e bibliografia consultadas:
  • ARQUIVO do Palácio Nacional da Ajuda. "Relação dos móveis e outros objectos existentes no Palácio Nacional da Ajuda e que por despacho ministerial foram cedidos [...] ao Exm.º Snr. Governador do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo" [documento datilografado, 23 mai. 1944]. APNA, República, 1.6. Assuntos relacionados com o Governo Civil do Funchal, Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, cx. 22, doc. 3-4.
  • CLUNAS, Craig (ed.). Chinese Export Art and Design [catálogo de exposição). Londres: Victoria and Albert Museum, 1987.
  • "ESCALIER de Cristal", in Maisonpedia [recurso eletrónico]. Paris: Marc Maison, [s.d.] Disponível em: Escalier de Cristal. Acesso em: 24 fev. 2025).
  • MASSEAU, Annick; MASSEAU, Didier. L'Escalier de Cristal: Le luxe à Paris 1809-1923. Paris: Éditions Monéelle Hayot, 2021.
  • MISSÃO de Macau em Lisboa; MARÇAL, Sofia (coord.). Artesão Chinês Cliente Europeu: O móvel chinês de influência ocidental em colecções reais e particulares portuguesas [catálogo de exposição]. Lisboa: Missão de Macau em Lisboa, 1999.

Dimensões:
Totais (tampo e suporte) : A. 76 x D. 97 cm
Nº de Inventário:
PGRA-PCG1045
Data de produção:
circa 1872-1885
Material e técnicas
Madeira e bambu - Ensamblada e entalhada
Incorporação:
Esta peça faz parte de um conjunto de bens que, após a criação da Região Autónoma dos Açores em 1976, foram incorporados ao patrimônio regional, provenientes dos extintos Governos Civis e Juntas Gerais dos Distritos Autónomos de Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada. Desde então, integra as coleções da Presidência do Governo Regional dos Açores, estando atualmente em exibição no Palácio dos Capitães-Generais, em Angra do Heroísmo.

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