Vaso em cristal, com decoração a ouro, em estilo Arte Nova. Objeto decorativo para interiores. Produção francesa, de fabrico atribuível à manufatura Baccarat, do início do século XX (c. 1900). Compõe um par com: VASO [de um par] [PGRA-PCG1107b].
Vaso cilíndrico alargando na parte superior, em cristal transparente, moldado por sopro, com decoração esmaltada a ouro, ao estilo Arte Nova, do início do século XX (c. 1900), de fabrico atribuível à manufatura Baccarat. A peça é ornamentada com motivos florais estilizados – narcisos e suas folhagens –, inspirados no japonismo, que se desenvolvem verticalmente ao longo do corpo. Os desenhos são pintados a ouro sobre esmalte avermelhado fosco e levemente relevado, criando um efeito de profundidade e requinte. O bordo e a base são realçados com filetes dourados. O interior exibe suaves caneluras verticais, enquanto o fundo é raso.
A influência do japonismo manifesta-se tanto na iconografia quanto na ornamentação, refletindo a estética das gravuras nipônicas que chegaram ao Ocidente a partir da segunda metade do século XIX. Esse intercâmbio cultural foi impulsionado pela abertura do Japão ao comércio internacional durante o período Meiji, despertando o fascínio europeu por sua arte. A estilização dos motivos florais, caracterizada por linhas sinuosas e composições dinâmicas, integra-se harmoniosamente à linguagem da Arte Nova, que privilegiava o movimento e a organicidade. Já a combinação do dourado sobre uma base de esmalte avermelhada, elemento recorrente nas criações da Baccarat por volta de 1900, acrescenta um toque de requinte singular, elevando cada peça a uma expressão sofisticada do luxo e da influência oriental.
Este vaso e o seu par faziam parte das coleções reais do Palácio Nacional da Ajuda e, de acordo com o arrolamento de 7 de fevereiro de 1911, encontravam-se na Sala Amarela. Muito provavelmente terão sido adquiridos por D. Maria Pia, Rainha de Portugal (1847-1911; rainha de 1862 a 1889) – cuja paixão pela arte do vidro era bem conhecida – durante um longo périplo de seis meses pela Europa, em 1901. O principal destino da viagem era a Itália, para assistir ao batizado da sua sobrinha, a princesa Iolanda, filha do rei Vítor Manuel III, mas incluiu também paragens em cidades como Paris. Na capital francesa, era habitual frequentar armazéns prestigiados, como o Grand Dépôt e L'Escalier de Cristal, e fabricantes de renome, como a Baccarat, onde realizou diversas compras ao longo dos anos. Em 1944, por despacho ministerial, os vasos foram cedidos ao Governo Civil do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo, então sediado no Palácio dos Capitães-Generais, na cidade de Angra do Heroísmo. Este processo fez parte de uma redistribuição mais ampla do património entre várias entidades e espaços sob a administração da República, com o objetivo de valorizar a sua representatividade institucional.
PEDRO PASCOAL DE MELO (março, 2025)
Nota: Agradecemos ao Palácio Nacional da Ajuda e, em particular, à conservadora da coleção de vidros, Maria João Burnay, pela valiosa colaboração na identificação, contextualização e descrição desta peça.
Fontes e bibliografia consultada:
- BURNAY, Maria João. "Japonism and Art Nouveau in the Glass Collection of the Portuguese Royal House", in Study Days on Venetian Glass: The Origins of Modern Glass Art in Venice and Europe. About 1900. Veneza: Instituto Veneto di Scienz, Lettere ed Arti, 2017, pp. 75-88 [Disponível em: Japonism and Art Nouveau in the Glass Collection of the Portuguese Royal House. www.academia.edu. Acesso em: 06 mar. 2025].
- LERCH, Michaela; MOREL, Dominique. Baccarat: la légende du cristal [catálogo de exposição]. Paris: Paris Musées, 2014.
- WICHMANN, Siegfried. Japonisme: The Japanese influence on Western art since 1858. Nova Iorque: Thames and Hudson, 1981.
Totais
:
A.
39,5
x
D.
15,5
cm
Cristal; ouro
-
Soprado; douragem sobre esmalte
Esta peça faz parte de um conjunto de bens que, após a criação da Região Autónoma dos Açores em 1976, foram incorporados ao patrimônio regional, provenientes dos extintos Governos Civis e Juntas Gerais dos Distritos Autónomos de Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada. Desde então, integra as coleções da Presidência do Governo dos Açores, estando atualmente em exibição no Palácio dos Capitães-Generais, em Angra do Heroísmo.