Travessa oval, em porcelana policromada e dourada, decorada com as armas (de fantasia) de Francisco de Bettencourt de Vasconcelos e Lemos (1751-1847). Objeto destinado ao serviço de alimentos. Produção chinesa, datável de cerca de 1809 (dinastia Qing, período Jiaqing). Compõe um conjunto com: PRATO RASO ARMORIADO [parte do serviço de mesa de Francisco de Bettencourt de Vasconcelos e Lemos] [PGRA-PCG0762].
Travessa oval, em porcelana policromada e dourada, produção chinesa de exportação para o mercado português, designada Companhia das Índias, datável de cerca de 1809, da dinastia Qing, período Jiaqing (1796-1820). Modelada e contramoldada, é decorada com esmaltes policromáticos, típicos da paleta da "família rosa", e ouro. A aba, em plano inclinado, apresenta ornamentação fitomórfica, com folhagens e frutos, sendo delimitada por um filete ao longo do bordo. A caldeira, baixa e de base plana, exibe ao centro as armas do encomendante, Francisco de Bettencourt de Vasconcelos e Lemos, de fantasia, esquarteladas com: I - Bettencourt; II - Lemos; III - Ornelas; IV - Vasconcelos, e encimadas por coronel de nobreza e timbre com o leão dos Bettencourt. O tardoz, sem decoração, é parcialmente vidrado, exceto a base.
Francisco de Bettencourt de Vasconcelos e Lemos, grande proprietário e influente figura política, nasceu em Angra do Heroísmo no dia 3 de dezembro de 1779. Era filho secundogénito do morgado Vital de Bettencourt de Vasconcelos e Lemos, senhor da Casa da Madre de Deus, e de Maria Madalena Vitória de Castil-Branco. Em 1809, contraiu matrimônio com Vicência Margarida Máxima Varela Ramalho, uma rica herdeira, com uma fortuna estimada à época em 62 contos de réis, viúva do sargento-mor das Ordenanças de Coruche. Formado bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, Francisco de Bettencourt exerceu as funções de juiz de fora e integrou a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino. Além disso, foi deputado e senador nas Cortes, conselheiro do Tribunal do Tesouro, membro do Conselho da rainha D. Maria II e fidalgo cavaleiro da Casa Real. A par da carreira pública, dedicou-se à agricultura, à indústria de curtumes e à criação de gado bravo em Coruche, onde mantinha residência, sendo, no entanto, a sua casa principal em Lisboa. Faleceu nesta cidade no dia 15 de março de 1840.
Esta travessa integra um importante serviço de mesa encomendado por Francisco de Bettencourt de Vasconcelos e Lemos, após o seu casamento, em 1809. Contudo, o conjunto é frequentemente, e erroneamente, atribuído ao seu pai, Vital de Bettencourt de Vasconcelos e Lemos, devido a uma confusão heráldica. Investigações recentes corrigiram esse equívoco, revelando que o serviço nunca teve como destino Vital de Bettencourt nem a ilha Terceira, como anteriormente se acreditava, mas sim Francisco de Bettencourt e a sua residência no continente português. Após 1980, o conjunto foi gradualmente disperso pelos descendentes deste último, sendo vendido em pequenos lotes através do mercado antiquário nacional. Algumas peças, no entretanto, foram adquiridas pelo Governo Regional dos Açores e hoje fazem parte dos acervos do Palácio dos Capitães-Generais (ver: PCG0762_Prato raso armoriado) e do Museu de Angra do Heroísmo.
PEDRO PASCOAL DE MELO (fevereiro, 2025)
Nota: Agradecemos a Jorge Forjaz e António Maria Mendes, investigadores com vasta obra nas áreas da genealogia e heráldica, pela valiosa colaboração na identificação, contextualização e descrição desta peça.
Bibliografia consultada:
- CASTRO, Nuno. A Porcelana e os Brasões do Império. Porto: Civilização, 1987, p. 188.
- DIAS, Pedro. Heráldica Portuguesa na Porcelana da China Qing. Lisboa: Fundação Macau, 2014, pp. 264-267.
- LEITE, José Guilherme Reis. "Francisco Lemos Bettencourt", in Enciclopédia Açoriana [recurso eletrónico]. [S.l.]: Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa/Direção Regional dos Açores, 2000. (Disponível em: Francisco Lemos Bettencourt. Cultura Açores. Acesso em: 20 fev. 2025).
- MARTINS, Francisco Ernesto de Oliveira. Palácio dos Capitães-Generais: Subsídios para a sua História. Angra do Heroísmo: Secretaria Regional da Administração Interna, 1989.
- MENDES, António Ornelas; FORJAZ, Jorge. "Francisco de Bettencourt de Vasconcelos e Lemos", in Genealogias da Ilha Terceira, vol. III. Lisboa: Dislivro Histórica, 2007, pp. 54-57.
- MENDES, António Ornelas; FORJAZ, Jorge. Tombo Heráldico dos Açores, vol. II [em publicação].
- SANTOS, Alberto Varela. Portugal na Porcelana da China: 500 Anos de Comércio, 4 vols. Lisboa: Artemágica, 2009.
- SOLLA, Castro e (conde de). Cerâmica Brazonada, 2 vols. Lisboa: Of. Graf. do "Museu Commercial", 1928.
Totais
:
A.
4
x
C.
40
x
L.
33
cm
circa 1809 (período Jiaqing, dinastia Qing)
Cerâmica (porcelana); esmaltes policromáticos e ouro
-
Moldada e contramoldada; pintada
Esta peça foi adquirida em meados da década de 1980, no mercado antiquário de Lisboa, como parte da ação de reconstrução do Palácio dos Capitães-Generais, após o sismo de 1981. O objetivo era decorar o edifício, sendo o processo conduzido com o auxílio de Francisco Ernesto Oliveira Martins, conhecido colecionador terceirense, que na altura exercia as funções de conservador do palácio. Desde então, integra as coleções da Presidência do Governo dos Açores, estando atualmente em exibição no Palácio dos Capitães-Generais, em Angra do Heroísmo.