Mesa fechada frente.
Mesa fechada frente.
Mesa fechada frente.
Mesa fechada frente.
Mesa fechada frente.
Mesa fechada frente.

MESA DE CHÁ DOBRÁVEL

Mesa de té plegable [ES]
Folding tea table [EN]
Table de thé pliable [FR]
Klappbare Teetisch [DE]
折りたたみ式のティーテーブル [JP]
Mobiliário
Nagasaki, Japão
- Produtor (atrib.)

Descrição:
Mesa de chá dobrável, com decoração em laca e madrepérola. Móvel de pousar. Produção japonesa, para exportação, de oficina de Nagasaki, do último terço do século XIX (era Meiji).

A mesa de chá dobrável, de encostar, com tampo duplo quadrangular, assente sobre coluna tripé, lacada e incrustada com madrepérola, foi produzida no Japão para exportação, atribuída a oficina de Nagasaki e datada do último terço do século XIX (era Meiji). Esta peça harmoniza elementos formais do mobiliário asiático e ocidental, com uma superfície visível ornamentada com laca negra sobre a qual se desenvolvem motivos intrincados em raden (japonês: 螺鈿), técnica tradicional de incrustação com madrepérola – com reflexos azuis e rosa – proveniente de conchas como abalone, turbante e ostra perlífera. Com as abas abertas, o tampo revela uma paisagem com um falcão pousado sobre uma formação rochosa, em posição de ataque, observando atentamente duas aves empoleiradas num ramo de cerejeira em flor, rodeadas por peónias e outras flores em plena floração; quando fechado, apresenta uma cena distinta, com dois faisões entre flores e folhagens. O mecanismo de abertura, com eixo excêntrico, permite que as abas se desdobrem simetricamente, duplicando a superfície útil da mesa. Quando não utilizada, as abas podem ser recolhidas, permitindo encostar a mesa à parede e otimizar o espaço. O aro, com duas gavetas frontais, é igualmente adornado com pássaros e motivos florais, decoração que se estende também à coluna de suporte e aos pés.

Trata-se de um interessante exemplar de mobiliário japonês de exportação da era Meiji (1868-1912), especificamente da segunda metade do século XIX, um período em que a demanda por artigos de luxo nos mercados ocidentais estava em forte crescimento. Produzido em Nagasaki, cidade portuária de grande importância comercial e histórica, a qual se destacou pela criação de móveis refinados destinados principalmente à exportação para a Europa e os Estados Unidos. Nesse contexto, as oficinas locais souberam harmonizar o artesanato tradicional japonês com as tendências e exigências estéticas do Ocidente, resultando em peças que se tornaram símbolos de luxo, sofisticação e refinamento. A laca, material durável e de grande versatilidade, era frequentemente utilizada para criar acabamentos brilhantes e delicados, enquanto a madrepérola, com sua iridescência única, possibilitava a criação de padrões intrincados que evocavam elementos da paisagem nipónica. A combinação desses materiais conferia às peças um refinamento inegável, refletindo a destreza e o virtuosismo dos artesãos japoneses da época. O resultado eram objetos de beleza extraordinária, capazes de cativar os compradores ocidentais, seduzidos pela arte decorativa asiática que, à medida que o Japão se abria ao comércio exterior, se consolidava como uma poderosa influência no cenário artístico mundial. Embora profundamente enraizado nas tradições japonesas, este tipo de mobiliário revela também uma forte adaptação aos gostos e exigências dos mercados ocidentais, refletindo a transição cultural da era Meiji e a modernização do Japão. Este período foi marcado pela integração crescente do país nas dinâmicas comerciais e culturais internacionais, alterando de forma significativa as práticas artísticas e industriais do Japão.

Simultaneamente, no Ocidente, o crescimento da classe média impulsionava novos hábitos sociais e domésticos. O salão, frequentemente o espaço mais ricamente decorado da casa, tornava-se o centro da vida familiar e da receção de visitas. Nesse contexto, a mesa de chá dobrável tornou-se um item indispensável, associada ao lazer requintado, ao convívio respeitável e ao ideal burguês de distinção. A introdução de mobiliário oriental não só aumentava o prestígio social de quem o possuía, mas também refletia um gosto cosmopolita e sofisticado, alinhado com as aspirações de uma classe média em ascensão. Funcional e elegante, a mesa atendia tanto a necessidades práticas quanto decorativas, tornando-se um símbolo de refinamento. Quando não utilizada, podia ser facilmente dobrada e encostada à parede, oferecendo versatilidade e otimização do espaço – características valorizadas nos lares ocidentais da época, onde a funcionalidade era tão apreciada quanto a estética.

Esta mesa integrou as coleções reais do Palácio da Ajuda, podendo ter pertencido à chamada "Salinha Chinesa", espaço decorado com peças de inspiração oriental que refletiam o gosto exótico e eclético das cortes europeias no século XIX. Em 1944, por despacho ministerial, a mesa foi cedida ao Governo Civil do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo, então sediado no Palácio dos Capitães-Generais, na cidade de Angra do Heroísmo. Esse processo fez parte de uma redistribuição mais ampla do património entre diversas entidades e espaços sob a administração da República, com o objetivo de valorizar a sua representatividade institucional.
PEDRO PASCOAL DE MELO (abril, 2025)

Bibliografia consultada:
  • FEVEREIRO, António Cota. "As singularidades da Sala Chineza no Palácio da Ajuda: Contextualização histórica e contributos para a sua museografia, in MIDAS - Museus e estudos interdisciplinares, N.º 14 (2022).
  • IMPEY, Oliver; JÖRG, Christiaan. Japanese Export Lacquer 1580-1850. Amesterdão: Hotei Publishing, 2005.
  • IMPEY, Oliver; SEAMAN, Joyce. Japanese Decorative Arts of the Meiji Period. Oxford: Ashmolean Museum, 2010.
  • MARTINS, Francisco Ernesto de Oliveira. Palácio dos Capitães-Generais: Subsídios para a sua História. Angra do Heroísmo: Secretaria Regional da Administração Interna, 1989.
  • PINTO, Ana Fernandes [et al.]. Uma História de Assombro: Portugal-Japão séculos XVI-XX / A Striking History: Portugal-Japan 16th-20th centuries [Católogo de exposição]. Lisboa: Palácio Nacional da Ajuda, 2018.
  • WICHMANN, Siegfried. Japonisme: The Japanese Influence on Western Art Since 1858. Londres: Thames & Hudson, 1981.

Dimensões:
Totais (aberta) : A. 73 x C. 100 x L. 100 cm
Nº de Inventário:
PGRA-PCG0860
Data de produção:
circa 1868-1899 (era Meiji)
Material e técnicas
Madeira, laca e madrepérola - Ensamblada, lacada e embutida
Incorporação:
Esta peça faz parte de um conjunto de bens que, após a criação da Região Autónoma dos Açores em 1976, foram incorporados ao patrimônio regional, provenientes dos extintos Governos Civis e Juntas Gerais dos Distritos Autónomos de Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada. Desde então, integra as coleções da Presidência do Governo Regional dos Açores, estando atualmente em exibição no Palácio dos Capitães-Generais, em Angra do Heroísmo.

Autonomia dos Açores Digital | CollectiveAccess parametrizado e estendido por Estrutura para a Casa da Autonomia

Ao continuar a navegar no CCM - Património Museológico Açores está a aceitar a utilização de cookies para optimizar o funcionamento deste serviço web e para fins estatísticos.

Para mais informações, consulte a nossa Política de Privacidade.

Continuar